Wednesday 25 April 2007

Vintecinco de avril





PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
e' uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
e' vinho, e' espuma, e' fermento,
bichinho a'lacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpetuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
e' tela, e' cor, e' pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pina'culo de catedral,
contraponto, sinfonia,
mascara grega, magia,
que e' retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que e' Cabo da Boa Esperanca,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de danca,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,para-raios,
locomotiva,barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do atomo, radar,
ultra-som, televisao,
desembarque em foguetão
na superficie lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.
ANTONIO GEDEÃO


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